Discos: Scalene (Éter)

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Imagem: Scalene (Éter)
Capa de Éter, segundo disco da banda Scalene

SCALENE
"Éter"
Independente; 2017
Por Bruno Eduardo


Guardo na memória, com riqueza de detalhes, a sensação que tive ao escutar pela primeira vez a faixa "Danse Macabre", que recebi por email, como simples sugestão de pauta em agosto de 2013. Era véspera de Rock in Rio, e como o festival aconteceria algumas semanas depois, eu praticamente almoçava e jantava Rock in Rio na redação. Lembro que naquele dia eu tinha acabado de entrevistar o The Offspring e Helloween, e precisava fechar pautas para garantir exclusividade. Ou seja, era realmente difícil que qualquer outro assunto pudesse desviar minha atenção naquele momento. O tal Scalene teria de ser muito bom para conseguir tal façanha. 

Confesso que fui alvejado pela mutação sonora do até então desconhecido disco - pelo menos para mim - Real / Surreal. Fiquei tão animado com o som dos caras, que na mesma hora liguei para a assessora da banda e marquei uma entrevista com o simpático Tomás Bertoni. Dois dias depois eu fiz questão de lançar a música dos caras na rádio, e resolvi ficar atento aos próximos passos do grupo - na torcida mesmo. Daí para frente deu a lógica. O Scalene tomou o rumo que eu já havia previsto e rodou o Brasil de canto a canto, ganhando mundo ao tocar nos festivais Lollapalooza e o SXSW (EUA). Evidente que o próximo degrau teria que ser a continuidade artística daquilo - ou seja, um novo disco.

Em entrevista recente ao Rock On Board, o mesmo Tomás garantiu que a banda preparava algo mais próximo ao som atmosférico de Surreal do que da proposta tentacular de Real. Bom, ele não estava mentindo. Éter, segundo trabalho do grupo brasiliense é como uma medula de sentimentos e sonoridades - é batido e original; agradável e perturbador. E mesmo sendo uma frase clichê entre a maioria das novas bandas, é correto afirmar que Éter "não é de fácil definição". A diferença, no entanto, é que a maçaroca desce redondinha. 

O som do Scalene lembra um monte de coisas e mesmo assim soa muito característico. Para ter uma noção dessa dicotomia, basta escutar os dez primeiros minutos do disco. Em "Sublimação", por exemplo, a voz de Gustavo Bertoni remete aos bons tempos de Dinho Ouro Preto, já a seqüência com "O Peso da Pena" vem carregado pelos vocais fantasmagóricos de um Queens Of The Stone Age. Não se assuste com as referências, pois tudo aqui funciona de forma magistral. "Histeria", que vem em seguida, é a pancada do disco - baixo distorcido, riffs de guitarra em afinação baixa e letra sombria dão o tom à canção. A depressão também bate forte quando violões aparecem fazendo cama melódica para "Fogo", mas o alto astral aparece logo depois, na positiva - e também repleta de violões - "Gravidade". O momento Coldplay - que todo mundo diz que a banda tem - fica evidente na cadência rítmica da faixa "Furacão", mas a quebradeira da ótima "Loucure-se" desmente todas as devidas associações anteriores. Enquanto solos de guitarra e uma levada pulsante fazem de "Alter Ego" o classic rock deste álbum, "Legado" finca dois pés no alternativo - elevando de vez a proposta rock intricada e cheia de inspiração do quarteto. Vale destacar também a participação especial de Mauro Henrique, do Oficina G3, em "Terra". 

Novidade para muitos, por conta de uma participação em um programa de TV - que se tudo der certo, vai passar rapidinho [entenda AQUI] -, o Scalene continua firme e forte em sua saga de fazer arte sem parâmetros. Éter é apenas uma constatação de que realmente eu não estava enganado. Esta, é sim, uma das melhores bandas surgidas no rock nacional nesses últimos dez anos!
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