BEST COAST
California Nights
Harvest Records; 2015
Por Lucas Scaliza
Eu não sei o quanto Bethany Consentino e Bobb Bruno vão durar juntos, fazendo música, mas a ascensão e maturação da dupla que responde pelo nome de Best Coast está seguindo de vento em popa. Ela na guitarra, no piano e na voz, ele na bateria, na guitarra solo e no baixo, ladeados por um estúdio em Hollywood e o produtor Wally Gagel, fizeram o melhor disco do Best Coast até agora: California Nights.
O primeiro disco, Crazy For You (2010), já mostrava o potencial da banda, mas era bem despojado e básico. O segundo, The Only Place (2012), já tinha arranjos melhores, a dupla estava bem mais consciente do que poderia fazer em estúdio e nos palcos. E California Nights supera os dois primeiros em tudo: letras, melodias, arranjos e um clima geral rock’n’roll que não agride, desce fácil e mostra sua força. “Feeling OK” é justamente assim e é a melhor abertura de álbum da banda. Basta ouvir uma vez para sair cantando junto de Bethany o refrão em meio as guitarras cheias de crunch.
“Fine Without You” é tão rock’n’roll quanto a primeiro, mais acelerada, mais punk, com guitarra solo com fuzz. E a ponte para o refrão é um dos momentos em que Bruno mais solta a mão para criar uma linha de bateria e baixo bem graves. A poderosa “Heaven Sent” é oitentista e traduz o espírito direto e animado do Best Coast em seu terceiro trabalho. O final da canção é um dos momentos mais pauleiras da discografia deles até aqui. “When Will I Change” segue na direção do New Order na forma como coloca o riff de guitarra e teclado. Por baixo da melodia, é um rock bem direto que dá espaço para Bobb Bruno tocar bem alto em seu clímax. “Run Through My Head” troca o ritmo de guitarra por um baixo distorcido e segue a empreitada pop com força rock’n’roll do disco.
“In My Eyes”, “So Unaware”, “Jealousy” e “Sleepy Won’t Ever Come” seriam momentos mais propensos para a balada, mas Bethany e Bruno pegam firme e deixam a distorção soar por baixo da voz gentil e cristalina. “Jealousy” é uma das melhores músicas do disco. Uma faixa que guarda tudo – no som e na letra – as características que fizeram o Best Coast ser abraçado no mundo indie pelo público jovem.
Grande parte do disco são músicas bem construídas de 3 minutos e meio, sem invencionismos técnicos ou experimentações sonoras. Composições muito boas, mas todas simples. California Nights pega mais pesado do que o ótimo The Voyager da Jenny Lewis e é mais pop do que o álbum homônimo de Ryan Adams. Pela objetividade e simplicidade, poderia traçar um paralelo com o Sometimes I Sit And Think, Sometimes I Just Sit, ótima estreia da Courtney Barnett (aliás, se você gostou da Barnett, vai gostar do Best Coast, e vice-versa), mas nota-se que Bruno e Bethany optaram por um caminho bem mais direto e familiar. Só há faixas boas no disco, mas todas repetem a mesma estrutura, o mesmo 4/4. Nesse ponto, Barnett foi um tantinho mais longe.
Quebrando o ritmo pulsante do disco, temos a excelente “California Nights”, melhor faixa do álbum, que pisa no freio, é mais viajante e mostra uma Bethany Consentino mais madura na interpretação vocal e mais original na condução da canção. Se tem uma música deste terceiro trabalho que vai ficar para a história da banda é esta faixa. Feche os olhos e vai imaginar realmente eu céu estrelado quando ela canta “Noites da Califórnia, me sinto tão feliz que poderia morrer, mas tento ficar viva”. Se o álbum tivesse mais composições como “California Nights”, estaríamos testemunhando um acréscimo de direção artística na caminhada da dupla que poderia se tornar um ponto de virada na discografia.
A dupla sabia que seria arriscado gravar algo tão diferente do que todo o resto do álbum e dos discos passados mostravam, mas acharam que valia a pena. Bethany conta que quando foi gravar o vocal da faixa, o produtor apagou as luzes do estúdio e ascendeu uma caixa de luz que mudava de cor. “Foi como ficar chapada sem estar chapada de verdade. Essa canção é como erva de áudio”, ela comentou.
“Wasted Time”, fechando o álbum, é outra faixa mais lenta que destoa do álbum, mas serve como respiro – afinal, dentre as 12 faixas, 10 eram de rock pulsante.
Por um lado, California Nights é o disco que mostra os avanços do Best Coast em relação a seus dois discos anteriores. É o melhor trabalho deles, sem dúvida. No entanto, apesar de fazerem muito bem o que se propõem, poderiam ter ousado um pouquinho mais na forma sem perder seus elementos mais característicos. O shows desse novo trabalho serão incríveis, não vai faltar distorção ou força em cima do palco. Mas se a banda se provou ou se ainda precisa se provar é algo que deixo para o próximo álbum, esperando para ver que direção tomarão.
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