Por Bruno Eduardo
Um privilégio para qualquer mortal poder ter visto "Lucille" eternizada pelas mãos do Rei do blues.
Hoje, ao receber a notícia do falecimento de B.B. King, decidi mexer no meu diário para relembrar aquela, que acabou sendo a última passagem dele pelo país. Riley Ben King nasceu no dia 16 de setembro de 1925, em Las Vegas, e influenciou uma geração de músicos, como Eric Clapton e Stevie Ray Vaughan. Nos últimos meses, King lutava contra complicações causadas pelo diabetes. Conforme noticiado por seu agente Brent Bryson, o músico morreu em casa.
A última vez no Brasil
Foto: Bruno Eduardo
Na entrada do Vivo Rio, várias pessoas tiravam fotos ao lado de uma imagem promocional - de um King talvez vinte anos mais novo. Outras chegavam ao local com suas respectivas guitarras. O que parecia ser um show de blues nada mais era que uma simples homenagem à vida.
A noite começou sem ele - apenas com a banda tocando uma congestionada (no bom sentido) performance de solos, num quase jazz de quinze minutos. Desde a sua entrada - com um lindo traje - ele mostrava ainda estar muito à vontade em cima de um palco. Afinal, levando em consideração suas condições físicas, era no mínimo notável a disposição de B.B. King em continuar enfrentando turnês - só no Brasil foram cinco apresentações entre setembro e outubro de 2012.
No alto de seus 87 anos de idade, os bends podiam não ter a mesma firmeza e as notas talvez não fossem mais tão certeiras, mas a perfeição estava no simples fato dele estar ali, vivo, eternizando o passeio de seus dedos cansados em Lucille. Na maior parte da noite, sentado de forma serena em sua cadeira, ele curtia o show com sua guitarra em volume baixo, improvisando em self-service e sustentava algumas notas para a platéia. Coordenando o show com simples movimentos de mãos, King diminuía o ritmo da banda sempre que possível - seja para solar em silêncio ou fazer alguma piada com alguém da primeira fileira. Aliás, o show foi marcado por longas pausas de pura reflexão, onde ele contava histórias e apresentava os seus companheiros de palco. O rei parecia estar sentado na varanda de casa tocando para amigos.
King tocou sete ou oito clássicos, como "Rock Me Baby", "When Love Comes to Town" e "Everyday I Have the Blues"; fez o publico cantar à capela, a emblemática "You Are My Sunshine"; e deu o ar da graça, no solo cheio feeling de "The Thrill is Gone".
Na parte final da apresentação, o músico distribuiu um punhado de palhetas, permitiu que fãs tivessem contato com ele, e autografou guitarras ainda no palco. O público estava lá para isso. Afinal, era uma rara oportunidade de assistir ao Rei do blues em vida, há poucos metros de distância - mesmo que isso durasse apenas uma hora, ou alguns poucos minutos. "Vim aqui para visitar Deus", diria um colega ao lado, com sua guitarra nas costas. Salve o Rei!
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