DISCOS: ELDER (LORE)
Por
Bruno Eduardo
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15:32
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É algo que sempre acontece. De tempos em tempos você se depara com uma pedrada tão boa de ouvir que sua vontade é sair batendo cabeça. Em 2014 isso aconteceu com o ótimo Once More ‘Round The Sun, uma tijolada do Mastodon que não tinha pausas para baladas e, além do heavy metal progressivo, apresentava uma pegada sinistra em várias faixas [leia a resenha do disco AQUI]. Este ano, o posto fica com Lore, do trio barra pesada Elder, de Boston.
Lore é um encontro nada incomum de Black Sabbath com o já citado Mastodon. Do primeiro, o Elder herda os riffs de stoner rock e o estilo vocal; do segundo empresta o timbre grave de todos os instrumentos, as mudanças rítmicas e o vigor imposto pela dinâmica de baixo e bateria, colocando um pé no heavy metal para dar uma leve acelerada. Mas de leve, porque a intenção do Elder é fazer a música ter gravidade, não confundir peso com a velocidade de uma ejaculação precoce, como fazem algumas bandas por aí.
Não há intenção de ser comercial. Tirando alguns poucos momentos mais delicados e com ótimos dedilhados, o disco não tem baladas e é muito intenso. A faixa título, por exemplo, tem 15 minutos de duração e sua letra acaba antes que a faixa chega à metade. A longa seção instrumental que se segue é de arrasar e de tirar qualquer um do lugar.
O disco tem apenas cinco músicas e quase uma hora de som. Ou seja, as faixas são enormes. A menor delas, “Deadweight”, chega aos 9 minutos e meio. Ou seja, exige que o ouvinte esteja disposto a aguentar grandes doses de rock’n’roll valvulado. O som é tão orgânico e com produção tão crua que a bateria acaba até soando um pouco abafada, a distorção das guitarras é ruidosa (mas com um ótimo timbre grave) e o baixo está presente a todo momento. Mesmo que a produção não tenham priorizado a clareza dos instrumentos, o resultado da mixagem não chega a ficar ruim, dando até um ar mais rústico a Lore.
A banda da costa leste americana é formada por Nick DiSalvo (guitarra, voz e teclado), Jack Donovan (baixo) e Matt Couto (bateria). Com muito espaço para sessões instrumentais, o trio sabe fazer sua música se manter interessante sem precisar apelar a todo momento para solos. Eles confiam muito em trocas de ritmo, riffs, dedilhados e alternância de dinâmica. Os solos estão lá também, é claro, e vão desde os mais tradicionais do heavy metal até momentos mais noisers que lembram o Queens Of The Stone Age.
A ótima “Compendium” muda de ritmo três vezes antes de completar dois minutos. Nesse trecho, a banda inclusive cria uma passagem que lembra muito “The Immigrant Song” do Led Zeppelin. E por mais agressivos que os vocais de DiSalvo tendam a ficar, nunca chega a uma voz gutural. “Spirit at Aphelion” tem uma linda abertura que lembra músicas de rock progressivo com influências folclóricas. Mas como eu disse, não há espaço para baladas em Lore, e a faixa logo mostra seu lado mais nervoso.
Ao mesmo tempo que recupera um stoner rock setentista, o Elder não deixa de soar cruamente moderno. Quem gosta de uma versão mais alternativa de heavy metal e discos que são pura testosterona vão encontrar em Lore um bom companheiro de estrada, de trabalho, de academia e de diversão também. Um forte candidato a fica entre os melhores do ano de rock pesado.
Bruno Eduardo, 38 anos, jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa Arariboia Rock News nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Como crítico cultural, foi Editor-chefe e colaborador do Portal Rock Press, e colunista do blog "Discoteca Básica" da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas oficiais de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Abril Pro Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Faith No More, The Offspring e Titãs.
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