Por Danyelle Woyames
Emocionante, profundo e inquietante. Marcelo Yuka tem o poder de nos desconcertar, sacudir nosso comodismo e nos fazer pensar "fora da caixa" em que a sociedade nos coloca. E numa palestra que ministrou no Centro Cultural Joaquim Lavoura, em São Gonçalo, não foi diferente: ele mexeu com os cerca de 200 presentes.
Nem um pouco adepto de meias palavras, ele expôs todos os seus pensamentos sem um roteiro pré-estabelecido e sem se intimidar com o ambiente ou qualquer outro fator externo. A variedade dos assuntos abordados foi grande, mas podemos destacar as questões ambientais, problemas de acessibilidade para deficientes, desigualdades sociais, produtos transformados em símbolos de poder pela sociedade de consumo e sua própria experiência de vida. Tudo permeado por sua visão crítica e temperado com pitadas de humor com um "timing" perfeito.
Como excelente poeta que é, não se pode deixar de destacar também toda a emoção presente em sua fala. Pois, como diz Paulo Lins no prefácio da biografia de Yuka "se tem uma coisa que Marcelo Yuka sabe fazer bem é contar uma história". Impossível não se deixar levar pelos cenários propostos e imaginar cada quadro na mente, como que pintado com suavidade pelo artista talentoso.
Mesmo nos momentos de críticas sociais, a gente simpatiza com o relato e sente na pele como seria ser "tratado como pedinte na Carioca" ao distribuir panfletos, só porque a sociedade vitimiza e pré-julga o cadeirante. Imagina como deve ser viver à margem da sociedade em relatos de momentos em que presenciou a pobreza e o que ela costuma acarretar. E a emoção sobe, saindo do coração em direção à garganta, que embarga, dá um nó... Chega aos olhos e mareja a alma.
Acima de qualquer coisa, o que fica de mais importante na mensagem de Yuka é o amor e o respeito ao próximo, estando ele perto de nós ou não. É entender que o mundo é mais do que "um carro zero ou o tênis da moda" e que nossa atitude deveria ir muito além do que nos proporciona prazer, chegando até a esfera do bem maior para todos. Yuka tenta - e consegue - "expor um pouco dos seus sonhos, querendo emocionar os nossos", como dito por ele mesmo em uma das dedicatórias dos muitos livros que assinou.
Pensador e filósofo da contemporaneidade, ele nos faz refletir por outra ótica e sair, de alguma forma, do lugar comum em que quase todos nos encontramos. E talvez - ou melhor, com certeza - seja exatamente isso que todos precisam.
Após a palestra, o músico falou sobre cena independente com o nosso colaborador Guilherme Carvalho. Segundo Yuka, as dificuldades sociais devem ser utilizadas como estímulo para alcançar seus objetivos.
"Eu venho da geração de noventa. E ao contrário da geração de oitenta, a grande maioria de nós estávamos à margem do poder. Tínhamos dificuldades para mostrar o nosso trabalho, pois era difícil ter os nossos próprios instrumentos ou dinheiro para pagar ensaios. Então, eu acho que se a gente venceu, foi justamente por causa dessas dificuldades", teorizando em seguida: "A dificuldade faz o sapo pular".
Por conta de sua história de vida, Marcelo Yuka sente-se atraído pela música que vem da periferia - que segundo ele, é onde há autenticidade. "A expressão vem do lugar que não é exatamente o cartão postal. Ela vem da periferia. As coisas que mais me interessam de música vem da periferia" - afirmou. E qual seria o conselho para os músicos independentes? "Duvidar mais do mainstream! A essência da música tem que ser emocionar e ser autêntico", finalizou.
é isso!
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