Foto: Bruno Eduardo
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Emmily Barreto do Far From Alaska solta o vozeirão em ótimo show no Rio |
Desde que surgiu, em julho de 2014, eu venho utilizando o adjetivo "sensacional" ao projeto Imperator Novo Rock. Antes de tudo, é bom deixar claro que não tenho nenhum vínculo com a casa, com a produção ou com qualquer outro meio de promoção do evento. Sempre achei sim, sensacional a iniciativa de abrir um espaço supostamente destinado ao mainstream para bandas independentes. Afinal, sou antes de tudo um defensor do rock. Vivo desse "corre" diariamente e acredito que uma das principais funções do jornalista "rock" é encontrar fagulha onde há escuridão e jogar combustível onde há brasa. E o Imperator Novo Rock é uma chama fundamental para a renovação do rock carioca.
Na edição de um ano do projeto, a casa recebeu um grande público (maior que na maioria dos shows que eu presenciei após sua reabertura). No local, além de uma irada rampa de skate, era possível assistir imagens curtas de todas as bandas que tocaram nas edições anteriores em um projetor, e você eventualmente esbarrava com algum integrante dessas bandas no abarrotado local. Não faltaram também homenagens ao mentor dessa iniciativa, o incansável Paulo Lopez, e ao Imperator. Os nomes de muitas bandas também foram lembradas, e algumas aplaudidas quando exibidas em um clipe retrospectiva do evento.
A primeira banda a subir no palco foi a Verbara, que venceu uma votação popular para conseguir participar dessa festa. O palco enfeitado com Lps de cantoras como Maria Bethania, Gal Costa e outros artefatos curiosos - como uma jarra de abacaxi piscante e uma garrafa de água posicionada ao lado de um cacto - mostrava de cara a proposta do grupo. Sonoramente o Verbara traz uma versão rock-MPB que fez sucesso há uma década na cartilha dos Los Hermanos. Com destaque para um trio de metais bastante afinado, a performance do grupo é dominada quase que exclusivamente pelo caricato Kadu Eduardo. Com óculos escuros, ele leva a apresentação como se tivesse se apresentando em rodas de poesia com versos prontos e rosas para a plateia - um misto de arte escancarada e breguice exagerada em iguais proporções. Além das canções de seu primeiro disco, eles apresentaram duas novas, com destaque para a quase marcha de "Sobrenatural" - que lembra o período de Arnaldo Antunes logo após deixou os Titãs. Mesmo que o grupo flerte muito pouco com o rock, o público entrou na dança, e eles saíram de palco aclamados.
Já a meninada do Hell Oh! é rock britânico dos bons. Chega a impressionar a maturidade musical desses garotos. Não é exagero. Você olha para o palco e se depara com um vocalista que deve ter seus vinte anos de idade no máximo, mas que perde a timidez quando empunha sua guitarra e tira sons que reverberam nos quatro cantos do Imperator. O som do grupo permeia por várias vertentes do chamado indie rock, mas ganha destaque em sonoridades mais moderninhas quando lembram Arctic Monkeys ("Hell Oh") e Strokes ("Flag"). Outro momento legal foi na canção "Out Of Nothing", que parece um surf music e termina numa guitarrada bem tramada. A apresentação desta noite comprovou de vez que estes meninos estão no caminho certo e se juntam ao time das bandas promissoras do estilo, como o já citado aqui no site, The Outs, por exemplo.
Fechando uma noite que pode ser considerada pontual para a história do rock independente carioca, o som atmosférico e cheio de robustez do Far From Alaska. Em pouco menos de uma hora em cima do palco, a banda potiguar entorpeceu os PA's da casa com sua máquina compressora de riffs, sintetizadores e vocais estrídulos. Já em "Thievery", é possível sentir a sintonia do público, que surpreende até mesmo o grupo, que parece não acreditar na quantidade de pessoas presentes. O show é baseado no sensacional ModeHuman, lançado no ano passado e executado de forma fidedigna e magistral pelo quinteto. A performance da banda é guiada na linha de frente pela dupla Emmily Barreto e Cris Botarelli, que fazem duetos vocais, batem cabeça ao mesmo tempo, e só saem de sintonia quando Cris decide atender ao pedido dos fãs e alterar a ordem das músicas no repertório. "O público quer 'Communication'. Eles é quem mandam", disse sorrindo. Outras que ganham força ao vivo, são "Politiks" - em qual Cris utiliza o som de uma slide guitar - e a pesadíssima "Mama". A voz de Emmily é algo que, embora tragar diversas referências tradicionais (Janis Joplin, por exemplo), apresenta uma peculiaridade rara nos vocais femininos (assim como também vejo em Pin Bonner da Tipo Uísque). A diferença porém, é que a sua voz alterna momentos de potência cortante com drives inimagináveis. Quando usa efeitos, faz isso com sagacidade, e encerra a apresentação assolando o cérebro dos presentes com uma mensagem repetida em voz de robô - quase subliminar: "Nós somos o Far From Alaska! Nós Somos o Far From Alaska!". O único ponto baixo do show foi a invasão no palco de algumas pessoas na música Dino Vs. Dino. Lógico que há tradição em alguns eventos e bandas que incentivam o mosh. Mas subir no palco para fazer selfie serve apenas como uma demonstração nefasta de nossa atual percepção social. Lembrando que palco é lugar sagrado do artista, e há equipamentos que podem ser danificados ou modificados por qualquer contato físico, levando o risco de influenciar negativamente na performance. Empolgação sim, mas com responsabilidade galera.
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