LAMB OF GOD
VII Sturm And Drang
Nuclear Blast; 2015
Por Lucas Scaliza
Em 2012, o Lamb Of God esteve nos holofotes da mídia musical e não-especializada por um motivo infeliz. O vocalista Randy Blythe foi acusado pela polícia tcheca de ter intencionalmente empurrado um fã de 19 anos quando este subiu ao palco durante um show em Praga. O jovem bateu a cabeça e morreu em decorrência do ferimento. Blythe pagou fiança. Em março de 2013 um júri o considerou culpado pela morte e ele foi preso em Praga. Os custos processuais e todo o tempo que o Lamb of God ficou sem tocar ao vivo consumiu toda a grana da banda. Mas conseguiram gravar um novo disco. Blythe escreveu as letras enquanto estava atrás das grades e os guitarristas Mark Morton e Willie Adler compuseram as novas músicas colaborando melhor um com o outro, e não cada um compondo a sua, como ocorreu em álbuns passados.
Para alegria dos fãs, o sétimo disco do grupo, VII Sturm und Drang - que significa tempestade e estresse, em alemão - tem peso de sobra. Embora me pareça ligeiramente menos agressivo que Resolution (2012), seu teor é mais sombrio e crítico. Embora Randy Blythe diga que não seja um disco de encarcerado, imagino que a experiência o tenha marcado e motivado muitas das letras (todas cantadas de forma gutural). As letras do grupo, que já eram ricas em comentário social sobre o lado mais podre do ser humano, as falhas da justiça, da religião, da sociedade como um todo e até contra a guerra do Iraque, agora poderiam explorar esse campo com muito mais amargor. Não que seja uma forma de Blythe se explicar ou se redimir pelo que fez. Fica claro que o disco é um passo à frente para a banda e o vocalista não quer e nem tenta se fazer de vítima. O documentário As The Palaces Burn, que acompanhou a turnê de 2012, explora o episódio trágico.
Ashes of the Wake (2004) foi o último disco do Lamb of God em que ouvimos um resquício punk e crust de sua sonoridade. A partir do ótimo Wrath (2009), a banda ficou muito mais metaleira e usou a técnica a favor da criatividade. É essa a receita que seguem em VII, abrindo com a matadora “Still Echoes”, cheia de riffs thrash bem feitos e dando um ótimo espaço para John Campbell fazer seu baixo atravessar a densa base rítmica. E a letra pinta um cenário geopolítico, passando pelo terceiro Reich e pelo Vietnã, pessimista, deixando claro que nenhuma guerra foi de graça e não há inocentes. O mesmo receituário sonoro é seguido por outras boas faixas, como “Embers” (em que há espaço até para vocal limpo). “Erase This” é um metalcore mais direto e tradicional, empolgante como deve ser o carro chefe do disco.
Mas é em “512” que encontramos o melhor do Lamb of God. Um riff de guitarra climático que perpassa os versos desde a introdução, uma dinâmica de baixo e bateria que mantém traz todo o peso do tema: o encarceramento de Blythe. “Seis barras cortam o céu/ Quatro paredes vazias para ocupar o tempo/ Uma palavra descuidada e você perde a vida/ Um grave novo mundo espera lá dentro”, ele canta. Em “Overlord” temos mais um momento inspirado da banda. Blythe deixa o gutural de lado e canta limpo. O instrumental também dá um tempo na quebradeira e se deixa levar por dedilhados e um jeito mais emocional de interpretar a música.
Outras que soam mais maduras – e menos preocupadas com o peso pelo peso apenas – são “Engage The Fear Machine”, “Wine and Piss” e “Torches” (sobre o herói nacional tcheco Jan Palach, que protestou contra a ocupação soviética de seu país em uma praça em Praga), que apresentam desenvolvimentos bem interessantes e sabem aproveitar o clima pesado que criam. Já faixas como “Arthtopoid”, “Footprints”, “Delusion Pandemic” e “Nightmare Seeker” ficam em uma zona mais conhecida do metalcore, sem correr riscos. Mas tudo vale a pena em VII Sturm und Drang, sendo o saldo de faixas criativas mais altos do que o de pontos comuns.
Desde Wrath a banda também vem apostando em um sonoridade mais encorpada, com timbres mais modernos e distorções mais cremosas do que gritantes. A visceralidade continua emanando de cada riff de Morton e Adler, assim como das baquetas inquietas e precisas de Chris Adler. A menos que os fãs do estilo ou da banda esperassem algo muito diferente do que já faziam, VII vai novamente encher os ouvidos.
Apesar de estilos diferentes, o novo trabalho do Lamb of God está melhor acabado em termos de empolgação do que 'Skill In Pills' do Lindemann e do que 'Extinct' do Moonspell. O vocalista diz que acha VII o disco mais coeso do grupo desde muito tempo. “Os últimos anos têm sido estressantes pra caralho para a minha banda. Tempos difíceis fazem bom metal, eu acho”, ele diz. Deve estar certo. Randy Blythe pagou por seu erro e arrastou toda a banda para o buraco negro jurídico e financeiro da situação, mas saíram dessa situação transformando todo o inferno da experiência em arte e com motivos de sobra para ser pesada.
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